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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O tempo em que Franca teve dois times de basquete

A partir de 1989 o basquete de Franca passou a ser controlado pela firma de calçados Ravelli, que assumiu administrativamente a gestão da equipe, e reequilibrou as finanças. A reestruturação gerou divisões ideológicas dentro da politica do clube, que acabaram levando a uma divisão.

Anunciava a Revista Placar, edição 1.014: "Além da tradicional Ravelli, Franca, cidade do interior de São Paulo, ganhará outro representante no Campeonato Paulista de baquete masculino, a partir de 1990. Trata-se da Yara Franca, cuja criação foi anunciada no dia 16 (de novembro de 1989)".

O projeto francano iniciado no final ds anos 1950 dentro do Clube dos Bagres, que posteriormente passou a ser Emmanuel de Franca, depois Amazonas Franca, depois Francana, até chegar à Ravelli Franca, levou à fundação, em 1991, do Franca Basquetebol Clube, com gestão própria e tendo como primeiro presidente a Francisco Luiz Coelho Rocha. O projeto passou a ser vinculado a "nomes-fantasia" em função dos patrocinadores: Sabesp, All Star, Satierf, Cosesp, Cougar, Marathon, Gallus, Unimed e Vivo.

De 1990 a 1996, a cidade de Franca abrigou dois projetos, ambos tendo estado presentes na 1ª divisão do Paulista e da Liga Nacional: o Franca Basquetebol e o Yara Clube. Este último chegou à elite em 1993, passando a receber o patrocínio da Dharma. Fez-se a rivalidade. Já em 93, o Dharma/Yara contratou duas das estrelas do rival da cidade, o experiente armador Guerrinha, com longa história na Seleção Brasileira, e o jovem ala Fernando Minucci, que despontava como principal promessa do basquete brasileiro; o treinador era Carlos Alberto Rodrigues, o Carlão, antes assistente de Hélio Rubens no Franca Basquetebol. O Dharma/Yara mostrava ter verdadeiras aspirações para fazer frente ao rival da cidade.

O Sabesp/Franca se reconstruiu após as perdas de duas de suas principais estrelas com a contratação do experiente Maury, armador da Seleção Brasileira, e com o norte-americano Dexter. O time do técnico Hélio Rubens ficou com Maury, Chuí, Dexter Shouse, Rogério Klafke e Fábio Pira como quinteto titular, com os jovens Demétrius e Janjão no banco. Já o quinteto titular do Dharma/Yara era formado por Guerrinha, Cadum, Fernando Minucci, Leon Jones e Gema, com Raul Togni e Edu Paulista no banco.

Guerrinha, pelo Dharma, principal nome do projeto do Clube Yara

Na Liga Nacional de 1993, Sabesp/Franca e Dharma/Yara/Franca ficaram em grupos distintos na 1ª fase (eram 3 grupos) e ambas equipes terminaram em 2º lugar nos seus respectivos grupos. Avançaram à 2ª fase e se encontraram. Eram 4 grupos de três, e os dois times de Franca caíram no mesmo grupo, junto com o Suzano. No turno, o Sabesp venceu seus dois jogos, tendo superado o rival da cidade por 107 x 99. No returno, o Dharma Yara venceu o Suzano, que na rodada seguinte surpreendeu o Sabesp. Na última rodada, duelo no Ginásio Pedrocão, Franca contra Franca, e quem vencesse avançava à semi-final. Foi um duelo dramático. Sabesp/Franca 104 x 102 Dharma/Yara/Franca.

O Quadrangular Final foi entre Sabesp/Franca, Rio Claro, Monte Líbano e Clube Ipê, de Jales. O Sabesp/Franca venceu Monte Líbano (95 x 91) e Ipê (97 x 91). Rio Claro também venceu seus dois primeiros jogos. Na 3ª rodada, o Sabesp venceu Rio Claro (92 x 88) e particamente garantiu o título. Na última rodada, duelo contro o time de Jales, o único ainda sem vitória no Final Four. O Sabesp/Franca venceu fácil, por 86 x 62, e garantiu o título nacional.

No Campeonato Paulista de 1994, Sabesp e Dharma Yara se enfrentaram na semi-final, com vitória do favorito Sabesp por 101 x 99. A vitória por 101 x 99 foi sacramentada com uma virada no minuto final. O jogo foi decidido a 4 segundos do fim da partida, numa cesta emocionante, após Dexter Shouse e Maury terem falhado em duas tentativas seguidas de fazer a cesta, mas com Rogério, na disputa pelo rebote, conseguindo dar um tapinha salvador que evitou uma prorrogação.

Na Liga Nacional de 1994, Sabesp/Franca e Dharma/Yara/Franca voltaram a avançar sem dificuldade na 1ª fase. Na 2ª fase caíram em grupos distintos. O Sabesp/Franca enfrentou Suzano e Minas Tênis Clube. O Dharma/Yara/Franca enfrentou Sirio e Palmeiras. Ambas equipes venceram seus quatro jogos, mostrando a força do basquete francano, terminaram em 1º lugar de seus respectivos grupos e avançaram à fase seguinte, na qual dois quadrangulares reuniam os oito melhores do país, com o vencedor de cada grupo avançando para fazer a final. Sabesp e Dharma Yara caíram no mesmo grupo.

Das quatro equipes do grupo, o Tijuca Tênis Clube não venceu nenhum jogo, a disputa ficou entre as duas equipes de Franca e o Clube Ipê, de Jales, que terminaram com quatro vitórias cada, sendo a vaga na final decidica no critério de desempate, nos confrontos diretos entre os três. Na 1ª rodada, o Sabesp/Franca venceu o Ipê (106 x 98) em Franca. Na 2ª, no clássico da cidade, o Sabesp venceu o Dharma/Yara (94 x 82). Na 3ª, o Ipê venceu o Dharma/Yara (96 x 95) em Jales. Na 4ª, também em Jales, o Ipê venceu o Sabesp (81 x 71). Na 5ª, se o Dharma/Yara perdesse, seu rival da cidade (Sabesp/Franca) estava praticamente garantido na final. Mas o Clube Yara conseguiu uma vitória heróica por 89 x 83.

No último jogo, o Dharma/Yara enfrentava o Clube Ipê no Pedrocão. Se perdesse, o times de Jales avançava à final. Para ser ele o finalista, o Dharma/Yara precisava vencer por uma diferença de 12 pontos. Por uma questão moral e de caráter, certamente entregar o jogo para eliminar o rival da cidade não passou pela cabeça de jogadores e comissão técnica, que com muito brio lutaram até o final, o nome da cidade estava acima de qualquer rivalidade. O Dharma/Yara venceu o Ipê por 99 x 96 e a vaga na final ficou com o Sabesp/Franca, que na série decisiva abriu 2 x 0 sobre o Pitt/Corinthians, de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, mas acabou perdendo a série por 3 x 2. O Sabesp quase fechou com título no 4º jogo, quando perdeu por apenas um ponto (99 x 98). Mas o título no final foi gaúcho.

Na Liga Nacional de 1993, o Sabesp terminou em 1º lugar e o Dharma/Yara em 7º lugar. Em 1994, o Sabesp foi 2º lugar e o Dharma/Yara foi 5º lugar. Na temporada de 1995, a cidade de Franca teve duas equipes entre as quatro melhores do Brasil.

O Dharma/Yara contratou então mais um jogador do rival, o pivô Janjão. O quinteto titular do técnico Carlão passou a ser formado por Guerrinha, Cadum, Fernando Minucci, Janjão e Gema.

Na Liga Nacional de 1995, eram dois grupos na 1ª fase, Sabesp/Franca e Dharma/Yara/Franca ficaram em lados opostos e ambos terminaram na 3ª colocação de seus respectivos grupos. Nas oitavas de final, ambos avançaram sem derrotas. Nas quartas, ambos começaram perdendo suas séries por 2 x 0, e ambos viraram, fechando em 3 x 2, com o Sabesp eliminando o Guaru, time da cidade de Guarulhos, e o Dharma/Yara eliminando o Palmeiras.

Na semi-final, o Sabesp/Franca foi facilmente batido pelo Rio Claro, perdendo a série por 3 x 0. Na outra série o Dharma/Yara superou o Clube Ipê por 3 x 2, vitória no 5º jogo em Jales por 117 x 95. Na final, o título foi decidido em quatro jogos, com o Rio Claro fechando a série em 3 x 1 e levando o título.

Após a perda do título nacional, o técnico Carlão foi substituído por José Medalha, para aquela que seria a última competição da história do Dharma/Yara, que acabou perdendo o patrocinador e sendo desfeito. Depois do Campeonato Paulista de 1996 a equipe do Dharma Yara Franca migrou para Ribeirão Preto, passando a ser financiada pelas Faculdades COC. Era o início do COC/Ribeirão Preto, que existiu durante 10 anos, período no qual foi 5 vezes Campeão Paulista e 1 vez Campeão Brasileiro. O projeto se encerrou em 2006, vivendo mais uma migração. O time migrou para Brasília, de 2007 a 2010 mantido pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo), e a partir de 2010 mantido pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). No Distrito Federal, foi 4 vezes Campeão Brasileiro, 2 vezes Campeão Sul-Americano e 1 vez Campeão da Liga das Américas.


3 comentários:

  1. Foi nostálgico e mágico ler esta matéria pois vivi e respirei basquete neste período, vivi um sonho nas categorias de base do Dharma/Yara um garoto que saia de Santa Catarina onde o basquete estava começando a engatinhar pra viver e aprender com o melhor basquete do Brasil na época. prof. Jamil...prof. Michel me ensinaram muito e me tornaram forte. Ainda tenho vívido a súbida da ladeira pra treinar no Pedrocão.....os treinos físicos na pista de esporte radical. Poder juntar os arremessos de idólos como o elenco do Dharma/Yara tinha quando nos era permitido a categoria de base assistir... Os restaurantes temáticos o famoso J.K que delícia. E as memoráveis partidas que revivi na memória com esta matéria me senti na arquibancada de novo com o ginásio lotado. Satisfação e gratidão por ler esta matéria.Andelon Oliveira dos Santos. 1994 o ano em que vivi um sonho na minha vida.

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    1. É com muita satisfação que início esse breve comentário,hoje aqui em SC Blumenau, no meu trabalho passou um rapaz com uma camiseta estampada várias marcas, mas o logo maiorque me chamou atenção é fez eu voltar ao tempo era dharma, perguntei mas ele ñ conhecia a marca ou a história da marca que se mistura com a história do basquete de franca.
      Só posso dizer que quando morei em franca usar um tênis da dharma era pra mim e pra muitos um enorme prazer.
      Os ténis combinava perfeitamente com aquelas calças xadrez,bermudas largas camisetas coloridas era um estilo de uma legião de fãs tanto do basquete, como também do hip-hop.
      E eu ñ era ninguém kkk só mais um na multidão, que só queria descer a ladeira de skate no bairro imperador.

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  2. Dharma yara jogou o jogos abertos do interior em Campinas creio que em 95, foram campeoes com direito a umma cesta do Gema do meio da quadra na semifinal no último segundo.
    Ficaram hospedados numa escola em frente de casa e todo jogo eles nos levavam para torcer no onibus do time.
    Foi muito massa conhecer o Guerrinha, janjão, gema, fernando minucci, Alexandre "shaq" entre outros... Até o pirilampo da equipe de roupeiros do Time...

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