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sábado, 1 de junho de 2013

A bola de basquete que matou um presidente



Em 25 de novembro de 1955, o Jornal dos Sports trazia matéria: “Começa a final: reabre-se o maior ginásio do mundo para a pugna entre os mais ferrenhos rivais dos últimos tempos do desporto da cesta. O tetracampeão obterá revanche ou o Sírio confirmará seu recente triunfo? Invulgar expectativa em torno da peleja”.
 
Àquela altura, por maior que fosse a expectativa, ninguém poderia ter idéia do tamanho e intensidade das emoções que estavam por acontecer naquela noite.

No dia seguinte, 26 de novembro, a primeira página do Jornal dos Sports destacava em letras garrafais: “Emoção da vitória fulminou Gilberto Cardoso” seguida pela nota: “morreu esta madrugada o presidente do Flamengo. Hoje será o sepultamento. O corpo sairá às 17h da sede do Flamengo para o Cemitério São João Batista”.

No interior do jornal, os pormenores dos intensos acontecimentos daquela noite: “Notável e dramática vitória do Flamengo. Nos últimos segundos a conta de Guguta ditou o score de 45 x 44”.

Eis a descrição do jogo: “A vitória do Flamengo tornou-se mais expressiva porque foi valorizada pela dificuldade com que se definiu o empolgante confronto. Desfez-se, portanto, posto que sem qualquer desprestígio para o Sírio, a chocante impressão que causara o êxito obtido pelo team de Ruy de Freitas no derradeiro prélio, quando os 63 x 46 dessa jornada tornou imperativa a nova série”.
 
As descrições dos segundos finais demonstra os contornos de dramaticidade daquele jogo: “após César haver colocado o Sírio a frente com 44 x 43, Olivieri teve o direito de tentar dois lances livres, perdendo ambos. Faltavam nove segundos. Foi quando o Flamengo arrojou-se num esforço supremo do qual resultou a sensacional cesta de Guguta”.

O técnico do Sírio e Libanês era Ruy de Freitas, e nas palavras dele é narrada a cesta decisiva e histórica que deu o pentacampeonato ao Flamengo e causou o infarto fulminante que matou o presidente rubro-negro Gilberto Cardoso: "Na histórica partida de 1955, além da sorte do Flamengo, nós desconfiamos que o cronômetro não correu. Faltavam 7 segundos, o Sírio tinha dois lances livres e o Olivieri perdeu os dois; o Algodão pegou a bola, jogou para o Alfredo no meio da quadra; o Alfredo pegou a bola, bateu devagar, atravessou a quadra, balançou o corpo e deu para o Arthur, que enganchou; a bola não entrou, veio o Guguta, deu um tapa e fez a cesta. Tudo isso faltando 7 segundos. Até hoje fica a interrogação: parou ou não o cronômetro?". O lance de Guguta sacramentou o placar de 45 x 44.
 
Os números daquela final, jogada em 25/11/1955:

Flamengo: Algodão (10), Guguta (16), Zé Mário (0), Artur (12), Walter (6), Godinho (0) e Alfredo da Motta (1).

Sírio e Libanês: Ardelin (3), Caco (6), Vinagre (4), Olivieri (15), César (16) e Álvaro (0).
 
Ainda ditando as páginas do Jornal dos Sports: “As vibrações chegaram ao transbordamento quando nos derradeiros segundos surgiu a cesta que seria a do espetacular triunfo. Daí saiu o grande presidente, sozinho, em seu próprio carro, mas batido pelo estado emocional em que se encontrava, não logrou passar do ponto da Avenida Presidente Vargas defrente do ‘Última Hora’. Conduzido ao pronto-socorro, foi medicado, mas logo sofreu crise mais séria. Os recursos da ciência foram em vão. Chegara o instante fatal. E o Flamengo sofreu todo o peso da dolorosa e inesperada perda”.
 
 
 
Gilberto Cardoso

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